terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Correio do Povo e Diário Gaúcho registram aula de samba para deficientes visuais



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ANO 117 Nº 137 - PORTO ALEGRE, TERÇA-FEIRA, 14 DE FEVEREIRO DE 2012

Não precisa ver, basta sambar

Grupo de 15 cegos da Escola Império da Zona Norte, que desfilará no sábado, emociona carnavalescos de Porto Alegre

 

 

Deficientes visuais se dizem animados para sentir a 'cadência do samba' 
Crédito: MAURO SCHAEFER

Quando ganhar a passarela do Complexo Cultural Porto Seco, sábado, dia 18 de fevereiro, a escola de samba Império da Zona Norte estenderá um novo olhar sobre o Carnaval de Porto Alegre. A presença de 15 pessoas cegas no desfile deveria ser apenas um admirável ato de integração social. Só que a dedicação e o carinho dos novos integrantes arrebataram o coração dos velhos sambistas e mostraram que a cadência mágica do samba também tem o poder de guiar os passos de quem não consegue enxergar, mas compartilha do sentimento cativante pela maior festa popular do Brasil.

É por isso mesmo que o sorriso de Josiane França Santos, 34 anos, não desmancha por nada. Ilumina a quadra da Império, onde ocorrem os ensaios do grupo. "Eu assistia aos desfiles das escolas, mas jamais desfilei. Achava que não era legal me oferecer. Fiquei feliz demais por ter sido convidada", conta. Josiane perdeu a visão há quatro anos, depois de um coma causado pela meningite. Estava grávida. Resistiu. Voltou do trauma e deu à luz ao caçula Rodrigo, nascido com saúde plena. Só que nunca mais enxergou. "Posso dizer que sou feliz por ter visto o meu bebê, pelo menos uma vez, na incubadora, no hospital", lembra Josiane.

Apesar da capacidade visual próxima dos 5%, Josiane se dá bem nos ensaios, movida pelo samba e pela paixão. Ao lado dela, o noivo Paulo César Valentim da Silva, 43 anos, constitui amparo mútuo nos futuros passos firmes do casal na avenida do samba e também para a vida. Paulo tem cerca de 15% da visão. Mesmo com a dificuldade, resolveu aceitar o desafio. "Está sendo uma experiência muito especial", descreve.

A alegria do casal e de todo o grupo superou a expectativa de Fábio Verçosa, Rei Momo da Capital. "Descobrimos que nós é que fomos escolhidos para aprender com essas pessoas", diz. Para a gerente da Associação de Cegos do RS (Acergs), Marcela Mattana, a participação deverá abrir novas oportunidades para os deficientes visuais na sociedade. O telefone para informações é (51) 3225-3816.

 

O Diário Gaúcho também cobriu a aula e fez um vídeo. Assista no link:
http://www.youtube.com/watch?v=hq0P3OdioAo&feature=youtu.be

 

Cegos aprendem a sambar na Capital

Grupo de deficientes visuais desfilará no Porto Seco na segunda noite do Carnaval

Roberta Schuler  |  roberta.schuler@diariogaucho.com.br

 

O grupo visitou o barracão da escola e aprendeu a cantar o samba, impresso em braile
Foto:  Marcelo Oliveira  /  Agencia RBS

 

Se o Carnaval privilegiasse apenas a grandeza das formas das alegorias, as cores vibrantes e o brilho das luzes, não haveria espaço para eles. Mas, como essa grande festa popular é a combinação também da vibração da música, da beleza dos gingados e da explosão de alegria, então não é difícil abrir alas para um grupo de deficientes visuais que está aprendendo a sambar.

A experiência está sendo proporcionada a 13 cegos a partir da parceria entre a escola de samba Império da Zona Norte, a Secretaria Municipal de Cultura e a Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs). Quem ministra a oficina é Ana Marilda Bellos, diretora artística da Império e ex-passista, contando também com o apoio e a larga experiência do Rei Momo Fábio Verçoza.


– Este é um sonho que se realiza. Eu me formei em dança e tinha vontade de trabalhar com deficientes. É um desafio. Descobri que eles precisam sentir a minha vibração – conta Ana Marilda, que pretende dar continuidade ao trabalho.

Além da aula de ontem, o grupo visitou o barracão da escola, no Sambódromo do Porto Seco, e aprendeu a cantar o samba, impresso em braile, com a ajuda do segundo puxador da escola, Fabiano Flores. Parte do grupo deverá desfilar com a Império na noite de sábado.

– Foi maravilhosa a visita ao barracão. Como a gente não vê, nos deixaram tocar nos carros e eu senti que tudo está muito lindo. Na muamba também foi muito bom – disse Josiane França Santos, 34 anos, que perdeu a visão há quatro anos, devido a uma meningite.

O namorado de Josiane, Paulo César Valentin da Silva, 43 anos, também está pronto para a folia.

– Temos que nos empenhar no que estamos fazendo e, na avenida, é só diversão – opinou Paulo.

 

Iguais e diferentes

Antes do ensaio, a turma aproveitou para pegar dicas e tirar dúvidas com a segunda princesa do Carnaval de Porto Alegre, Thais Pereira de Oliveira.

– Elas queriam saber se podem ir sambando e caminhando durante o desfile : comentou Thais, que ajudou a maquiar as meninas.

Para a professora Marilena Assis, 49 anos, a aula de samba não será importante apenas no Carnaval:

– A gente que não enxerga fica com o corpo rígido, então a aula será boa também para a nossa mobilidade – revela Marilena, que deixou de enxergar por causa do glaucoma.

Fábio Verçoza lembra que no Carnaval há espaço para todos serem respeitados e queridos. E a turma provou com palmas, gestos e empolgação, que na festa de Momo iguais e diferentes podem brilhar juntos.

 

DIÁRIO GAÚCHO

 

 

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